Série Aedos. Texto 7. Onde o desejo e o talento se encontram.

Vania Abreu Oficial
3 min readMar 25, 2021

O talento é algo muito difícil de ser confundido com vontade, mas também precisa dele. Precisa do desejo. Mas o quê se deseja com o desejo? Para onde ele deve nos levar?

Na juventude, aquela que perpassa final da adolescência e início da vida adulta é "natural" que não saibamos identificar o por quê dos nossos desejos. Eles ficam misturados com carências, compensações, ilusões e a tal falta de maturidade que só é conquistada com o tempo.

Diante da minha trajetória pessoal, muito isolada de pertencimentos a grupos de estilo ou intelectuais, senti muita falta de perguntas e apoios. Apoios emocionais, intelectuais e afetivos que me ajudassem a entender que tipo de conhecimento eu deveria buscar, ali, no começo. Se eu deveria buscar estudar teoria musical por um aprimoramento por um instrumento musical, se eu deveria estudar canto, teatro… ou mesmo se deveria me ater a buscar estudar a música como valor cultural, digo linha do tempo e compositores da música brasileira. E soava a pergunta — Onde buscar estudar? Escolas de música ensinavam as teorias da música clássica erudita, assim como era ou talvez ainda seja, o próprio estudo do canto — Ensinos do Erudito, Clássico ou bastante americano do norte. Claves da música brasileira não haviam, sequer bibliografia ou "audiografia" organizada para estudo. Certamente, hoje já deve ter mais produção acadêmica sobre a música brasileira, mas ainda em pequeníssima escala.

Quem teria discos e conhecimento para imersões de audição e literatura organizada que pudesse fornecer o entendimento da abrangente música brasileira, em cada região, com suas diferenças? Talvez, por isso nascer numa família de "artistas" ou que tenha muito acesso à cultura faça tanta diferença para desenvolver o talento ou ter o desejo mais bem direcionado.

O mercado também direciona que se invista mais tempo em "parecer e vender" do que em se tornar. Creio que nisso reside a formação dos melhores alicerces, ainda que toda individualidade esteja aberta a capacidade de como percebemos as inspirações ou as usamos.

Diria que minha maturidade me leva à percepção de que o mercado atrapalha muito e que a própria classe artística divide muito pouco do que sabe. Os tais conhecimentos não estão disponíveis ou são facilmente acessíveis e que a grande maioria das biografias atende muito mais ao desejo de exaltação da mítica, do que ao compartilhamento de experiências que promovam a formação de artistas menos deslumbrados e mais interessados em exaltar a arte que fazem, antes de a si mesmos.

Não é à toa que Paris e grandes metrópoles culturais são o que são para a arte. É misturando talento, conhecimento, escolas de artes, acesso e trocas que se formam grandes artistas ou se anda com os maiores.

Foto: “SURREALISM: Tristan Tzara,Paul Eluard, Andre Breton, Hans Arp, S Dalí, Yves Tanguy, Max Ernst, Rene Crevel, Man Ray.

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Vania Abreu Oficial

12 discos de carreira|diversas participações em trilhas sonoras para cinema, teatro e televisão| Produziu 04 Álbuns| 01 Livro infanto-juvenil