Sorry! Me perdoe, pardon, forgiveness serve mais que gratidão.
Na sociedade do cansaço de Byung-Chul Han, por onde ando ninguém está bem.
Ninguém está satisfeito. Em tudo, há muito defeito.
Nas ruas, nos lugares, nas pessoas, no país então (e nisso temos razão).
Todo mundo está esgotado de tanto e todo mundo aqui não é muita gente, é todo mundo mesmo.
Um simples compromisso hoje, me traz angústia. Se levo meus cabelos ao salão, lá sempre recebo a notícia de que eles não estão bem e de como isso é custoso para o cabeleireiro. Ele bufa, reclama do corte, da cor.
Sempre recebo bronca pelas pontas secas, pela cor escura demais e pelo frizz.
Uso os produtos errados, tenho o corte errado para cada um deles (dos cabelereiros que vou) que me olham e todos repetem o descontentamento da análise da minha incompetência em estar uma mega pessoa que anda pronta para tirar uma foto.
Minhas mãos e meus pés? Não posso nada com eles (que são meus) senão ali, sob os cuidados daquela manicure. Qualquer puxadinha de pele em casa, já levo uma mega bronca. Eu que vivo cheia de tintas e terra do jardim, sou um péssimo exemplo das mulheres que frequentam salões. E sempre “estou” menos arrumada que devia, pela expectativa que todos fazem. Troco de salão constantemente e escondo minha identidade para não ter que lhe dar com as cobranças de ser reconhecida.
Se vou ao médico (todas as especialidades) então, tudo que fazemos está um pouco errado e o médico não tem nada a ver com o que temos.
Nunca tomamos água o suficiente, não treinamos e não fazemos aeróbio o suficiente, não lavamos o rosto com o produto adequado, não escovamos os dentes com a escova ultramegablasterplus indicada, enfim cada especialidade nos exigirá tantos cuidados que na rotina não caberão todos eles.
Para muitos nos resta indicar que devemos trocar tudo. Mudar cabelos ondulados pela progressivas, ficarmos loiras, colocarmos dentes novos e todos certinhos e muito ácido na pele. Ou seja, naturalmente estamos péssimos.
Se chamamos o uber estamos errados em alguma coisa, ou na descrição do endereço, ou onde paramos, ou para onde vamos. Ou é perto demais ou longe demais.
Se ligamos para uma empresa para um ajuste, queixa ou informação ela nos passa para outra ou para um aplicativo resolver. Agora toda empresa tem aplicativos para que você faça tudo sozinho, fico me perguntando qual é a parte dela.
Sim, poderia e deve ser um pouco de marketing para vender serviços, produtos e um pouco de valorização egocêntrica do olhar de cada um, que pensa ser dono do dizer, do que nos falta, mas entendo sobretudo como uma medida do cansaço que está bem maior.
Atender tantas individualidades em cada pedido não está fácil para ninguém. Mudar tudo para que a tecnologia faça tudo também, não vai funcionar. Ser incrível, insuperável tão rapidamente, também é insuportável.
Todos estamos sentidos de que há pedidos demais e que aplicativos não são aplicáveis para tudo. Senão deixaremos de ter empresas e serão todas aplicativos.
Nos restaurantes, cada prato no cardápio deve se adaptar ao gosto do cliente, no uber cada cliente quer ouvir uma música de sua tribo, parece mesmo que nada, tem tudo que uma maioria aprecia ou que cada um precisa tanto, de tantas especialidades que há um esgotamento de adaptações. Nada basta aos que pensam que o dinheiro compra tudo.
Todo mundo está exausto, mas também há o engano de que todos tem direito a muitos direitos, por muito pouco feito e quase nenhum trabalho às vezes. E, neste caso são direitos bem esquisitos. Parece-me que as novas gerações (e entenda nisso um espírito que se estende a muitos adultecentes) que querem trabalhar pouquíssimo, fazendo só o que gosta e quando quer e não ter nenhuma responsabilidade. Quer ganhar cada vez mais para fazer cada vez menos. E isso não tem nada a ver com direitos humanos, esses são inegociáveis. Preciso deixar claro, que penso ser esta uma imensa confusão que fizeram também no mundo.
Quem ensinou isso? Aha! O capitalismo e seu espírito vaidoso e manipulador e seu descendente mais desumano, o neoliberalismo.
Liberou ganhar muito fazendo o mínimo, tipo aplicar dinheiro em fundos. Existe coisa mais sem mérito que aplicar na bolsa?
No fundo, esse saco não espaço para tanto cansaço, tanta desumanidade que envolve a mentira e a falta de naturalidade da felicidade que pode ser comprada. É muita mentira vendida.
Daí começo a pensar que todo lugar que eu vou, não era para eu ter ido, todo telefonema dado, era para ter mandado antes uma mensagem de zap direta ou melhor, nem ter ligado. Que preciso não precisar de nada. Veja que loucura.
#tipoassim ninguém aguenta mais dar conta de tanta gente reclamando.
Entre um reino que falta para tantos reis e rainhas mal servidos e a vastidão de nada mais funcionar tão bem, existe uma humanidade exaurida de cansaço. Inventaram um mundo muito mais difícil de entendermos e de vivermos.
Sorry! Me perdoe, pardon, forgiveness serve mais que gratidão.
O Capitalismo precisa pedir perdão à humanidade.
Porque, de verdade não podemos ser gratos por um mundo muito pior.