Outros Outubros Rosas Virão

Vania Abreu Oficial
3 min readOct 1, 2023

Dentre todos os preconceitos que existem, creio que o mais profundo, mais antigo, mais enraizado é da misoginia.

A história (ciência) nos conta.

A homofobia é inclusive extensão dela.

Outubro começa e vem de rosa. Para lembrar que nós mulheres que cuidamos de tantos, de quase tudo, quase sempre, nos deixamos por último.

É um mês importante para fazer de uma campanha, um hábito e trazer a consciência desses cuidados.

Fonte: Pinterest

E somos realmente, muito mal amadas, mal pagas, pouco valorizadas, extremamente criticadas por uma barriguinha, por pouco peito ou peito demais, por bunda flácida ou muita bunda, por cabelos selvagens ou penteados sofisticados, roupas justas ou roupas demais, por roupa de menos, maquiagem de mais e por uma centena de críticas que nos tornam sempre, alvo e centro. Somos um objeto em análise constante.

Neste mês, vou abrir meu lado rosa, da cor de rosa choque. Nada com a ideia de menino veste azul e menina veste rosa. Não é esse rosa que me interessa. Talvez o da Barbie, no filme dirigido Greta Gerwig, digno de incômodos bem-vindos, o da Rita Lee, da mulher que todo mês sangra, meio rosa, meio carmim, meio âmbar, em toda nossa diversidade.

Marc Chagall

Tem um lado do feminismo, desta terceira onda, que me incomoda muito, mas esse é assunto para um texto só para ele. Compreendo “os excessos” de pautas e divisões do movimento, porque é tempo mais que tardio, desse lugar de fala e de equidades.

Neste outubro Rosa, quero falar do quanto me fez grande, me fez bem ver filmes dirigidos pela Greta, ler e assistir mulheres falando por elas, ter lido “Mulheres que correm com os lobos” da Clarissa Pinkola Estés. É, de fato, uma felicidade com gosto de vingança, de encontro com nossa sororidade, destruída pelo patriarcado, assim como nossa auto estima.

Quero falar da maternidade, quase sempre solo, mesmo com o pai em casa e tantos desdobramentos dessa desigualdade. Da perda de um filho e de como as dores femininas foram e ainda são silenciadas na arte, na cultura, no comércio, no patriarcado.

Quero lembrar das centenas de canções, pinturas, esculturas, poemas e livros que nos condicionaram a buscarmos sermos “ideais” para homens se apaixonarem.

Quero falar de como mudei e nem imaginava que tinha sido assediada tantas vezes, das piadinhas que tiram sarro, de que fui tão solitária, tão generosa, tão parceira e mal percebia o que estava profundamente construído como natural.

Nelson Kadir

Certamente não vai caber apenas num mês, uma vez por semana. São séculos de misoginia e muito trabalho para desconstruir essa cultura patriarcal, que tanto tem mal as mulheres e creio que também tem feito mal aos homens.

Todo dia, de qualquer mês, deveria ser rosa. Se existe mais do feminino no mundo, o mundo teria sido, seria e poderá ser um lugar muito melhor para todes.

--

--

Vania Abreu Oficial

12 discos de carreira|diversas participações em trilhas sonoras para cinema, teatro e televisão| Produziu 04 Álbuns| 01 Livro infanto-juvenil